A Inteligência Artificial é tema decorrente no contexto educacional, sendo apontada como um grande problema para as escolas e faculdades. Os professores percebem que o estudante usa a IA e produz trabalhos com perfeição que ele, por construção própria, jamais seria capaz de produzir. Por outro lado, discute-se a proibição do uso do celular nas aulas. Também há discussões de que, cada vez mais, os estudantes vão desaprender a pensar, pois recebem tudo pronto na IA e estão ficando a cada dia mais alienados com os novos recursos da tecnologia da informação.
Isso suscita muitas reflexões se olharmos para a história da humanidade. Claro que nunca houve à disposição tantos recursos comunicacionais como hoje, mas todas as vezes em que surgiram novidades (rádio, TV…) os olhares se voltam a essas e, aos poucos, as mesmas vão sendo incorporadas na cultura das pessoas. Todas às vezes que tentou-se proibir o seu uso, não se obteve êxito. Hoje estamos novamente, certamente como nunca, diante deste desafio. Será que em vez de centrar-nos em proibir, não teria chegado o momento de rever nossos modelos educacionais desde a família? Na família, normalmente, as crianças recebem tudo pronto e assumem posição de “reinados” tornando-se pessoas frágeis emocionalmente e desacostumados a superar problemas, desafios, sem hábitos de comprometimento.
Voltamos à escola e à faculdade. A IA foi produzida por mentes humanas que descobriram na natureza matérias e forças capazes de fornecer recursos nunca antes vistos e que estão à disposição do ser humano como meios para nos ajudar a satisfazer uma das nossas grandes essências, ou seja, por que as coisas são como são. A Inteligência Artificial chegou a um estágio no qual é capaz de simular a mente humana em grande parte. Por exemplo, para buscar dados que já existem, cruzá-los e gerar respostas sistêmicas e completas, ela é extraordinária. Falta a ela, e isso, por enquanto, só cabe ao ser humano, o olhar sensível, de reflexão, de análise, de produzir novos olhares sobre algo que já existe, ou que ainda não foi descoberto. Portanto, para organizar e repetir coisas que já existem, a IA já superou a mente humana.
E aqui constatamos o grande problema da educação. O modelo vigente está centrado em memorizar e repetir informações que já existem e não em oportunizar a descoberta de novos horizontes escondidos na natureza, assim como são movidos os cientistas (todos somos cientistas) que se habituam a desafiar-se, a problematizar, a refletir sobre e a buscar novas compreensões e soluções. Portanto, será que não está na hora de repensar e construir caminhos de educação aonde a IA seja um recurso, em vez de um problema?
A solução novamente começa na necessidade de conhecer o ser humano, como a mente funciona e como se motiva. Como exemplo temos os cientistas (maioria foi expulsa da escola) e tantas pessoas em nosso meio que estão sempre sedentas na busca e na descoberta de novas soluções. Novamente, não vamos buscar soluções fora, mas na própria escola e faculdade. O melhor caminho é reunir-se, estudar o ser humano e ir adequando a prática pedagógica à forma como aprendemos e como nos motivamos. Construir aprendizagens significativas que partam dos problemas, desafios da realidade e que encontrem nos conhecimentos já existentes, ou novos conhecimentos descobertos pelos próprios estudantes, que forneçam novas compreensões e novas soluções. Agora sim, a IA vai poder ser um grande recurso para buscar dados, cruzar dados que nos ajudem no processo de aprender a aprender e a descobrir.
As descobertas não surgiram de um momento para outro. Foram sendo exercitados nas escolas nas quais atuamos como professor e ao mesmo tempo também como diretor. Soma-se a isso as inúmeras inquietações manifestadas por professores que, depois de orientados, superaram o dilema da Inteligência Artificial como problema.