Quem de nós já não julgou o outro a partir de suas próprias culturas ou experiências vividas? Muito provavelmente muitos tenham feito o mesmo conosco e o ciclo se repete ‘ad eternum’, expressão romana que quer dizer para sempre, para toda a eternidade. Imagine você, uma mãe que cozinhou a vida inteira para seus filhos e marido e se sente cansada e esgotada de fazer isso. Seu desejo é de nunca mais entrar em uma cozinha e, por causa de sua frustração, vive reclamando e culpando eles por não saberem se virar sozinhos. Você se sente em uma prisão de onde jamais poderá sair. Seus filhos também estão cansados da sua ladainha e reclamações diárias e então você decide: ‘quero férias e os marmanjos que se resolvam’. Para sair disso você reclama, ofende e culpa a todos, mas, no fim, alguém dispara: finalmente você não faz mais nossa comida. Você é péssima na cozinha. Agora vamos nos virar mesmo! Em uma situação como essa, inesperada eu diria, você se sente ofendida, destratada e responsabiliza a todos pelo fracasso. Na Comunicação Não Violenta aprendemos a pensar sob outros ângulos, sempre nos responsabilizando pelos nossos sentimentos e conversando abertamente e entregando-se de coração ao outro, com compaixão e empatia.
Não podemos dizer que será fácil aprender uma comunicação que não ofenda, não julgue ou não menospreze o outro para conseguir alívio emocional. Aprender a reagir de forma consciente nos relacionamentos, fugindo dos laços de repetições e respostas automáticas que vem de um ego machucado será uma das grandes oportunidades e aprendizagens dos nossos encontros e cursos, conscientizando-nos de que nunca é tarde para aprender e desenvolver essa habilidade. Muitos estudiosos, como William Ury, Daniel Shapiro, Marshall B. Rosenberg, com a comunicação não violenta, ou Howard Zehr na justiça restaurativa e outros tantos, tem-se aprofundado em meios pacíficos e satisfatórios de controvérsias com êxitos que vão de soluções internacionais a familiares restabelecendo a paz e o entendimento entre pessoas, organizações e até entre países. Comunicar-se de forma adequada muda e restabelece relações, fortalece a pessoa e sua rede de apoio sejam elas quem forem.
Alguns dos princípios que sustentam a Comunicação Não Violenta são:
Observar sem julgar
- Por exemplo: Em uma reunião de feedback, ao invés de dizer “você sempre chega atrasado”, formule frases específicas e concretas como por exemplo: “nas últimas duas semanas você chegou mais de meia hora atrasado para nossas reuniões semanais. Evite generalizações.
Nomear seus sentimentos
- Esforce-se para entender os sentimentos que estão por trás das observações feitas pelo outro. Faça uma autorreflexão, identifique seus sentimentos e expresse-os de maneira clara. Por exemplo: “quando você chega atrasado sem avisar, eu me sinto desrespeitado”. Dessa forma, cria-se mais empatia e abre-se um canal de comunicação direto e sincero entre os envolvidos.
Identificar e comunicar suas necessidades
- Quais necessidades estão por trás dos sentimentos e atitudes? Nossas ações são embasadas em fortes motivações. Por exemplo, caso o fato de seu colaborador chegar atrasado, ou não vir a uma reunião faça com que você se sinta desrespeitado, provavelmente, a real necessidade por trás dessa situação é a de sentir-se respeitado e valorizado.
Pedir ao invés de mandarExpresse suas necessidades em forma de pedidos claros, tangíveis e objetivos. Use sempre uma linguagem positiva. Ao invés de dizer “não chegue mais atrasado!”, diga “gostaria que você chegasse no horário para nossas reuniões”.