Diz o ditado que somos contratados pelos currículos e afastados por causa de (maus) comportamentos e (problemas de) relacionamentos. Seja nas empresas, nas organizações ou em ambientes educacionais, como escolas ou universidades, há variadas possibilidades de desentendimentos que podem ir de um simples desconforto verbal entre colegas até a vias de fato, como a violência física e psicológica. Não somente nesses lugares, mas dentro das famílias e entre casais, o forte laço biopsiquicoemocional interfere na capacidade de perceber alguns conflitos como possibilidades de mudança, reposicionamentos e novos contratos verbais.
Seja qual for o caso ou o ambiente aonde esses conflitos acontecem corre-se o risco de escalada, onde um argumenta e o outro responde com outro argumento e há réplicas e tréplicas infindáveis. Por causa disso, muitas vezes optamos pelo silêncio, mas, mesmo assim, lá está o conflito, corroendo por dentro as relações humanas. Poderíamos dar vários exemplos aterrorizantes de conflitos mal resolvidos como os ataques a escolas no Brasil e no mundo, suicídio entre jovens por causa de Bullying, funcionários em dia de fúria que incendeiam a empresa, ou assassinam patrões, ou colegas de trabalho, casais que chegam às vias de fato por meio da violência, feminicídios e até patricídios ou parricídios, e assim por diante. Diante de situações que envolvem forças emocionais intensas, nosso organismo nos atrai para o conflito com tentativas de sobrevivência extrema, como se estivéssemos em risco de vida.
Não podemos dizer que resolver conflito é fácil, ou que aprendemos isso em casa, na escola, universidade ou no labor, por que não seria verdade. No entanto, nunca é tarde para aprender essa habilidade. Muitos estudiosos, mediadores e facilitadores de solução de conflitos como William Ury, Daniel Shapiro, André Gomma, no judiciário, Marshall B. Rosenberg, com a comunicação não violenta, ou Howard Zehr na justiça restaurativa e outros tantos, tem-se aprofundado em meios pacíficos e satisfatórios de controvérsias com êxitos que vão de soluções internacionais, a familiares restabelecendo a paz e o entendimento entre pessoas, organizações e até entre países.
Algumas das habilidades essenciais que envolvem o saber resolver conflitos são:
- Escuta atenta e profunda- ouvir o que não foi dito e não pensar em defesa ou ataque, mas em entender os sentimentos, as necessidades e os pedidos do outro. Postura sem réplicas ou tréplicas;
- Aceitação de que todos merecem respeito e serem acolhidos na sua dor- dar importância e atenção ao que o outro fala, olhar nos olhos, se desligar do celular. Estar inteiro consigo e com os outros;
- As emoções e os sentimentos são mensageiros- procure ouvir o que eles estão dizendo e se reposicione no conflito de maneira que não seja engolido por eles, mas que fluam para o melhor lugar da solução.
Humildade- para reconhecer que não tem todas as respostas. Saber dizer “Eu não sei, vamos procurar/tentar juntos!”
Com professores do 4º e 5º anos, com gestores educacionais, em clínica de mediação e resolução de conflitos, em universidades, com famílias e em cooperativas agrícolas.