O caso Gilmar: 2017. Precisávamos construir uma escada em madeira do porão para a casa. Um arquiteto fez o projeto. Nos indicaram um marceneiro: Gilmar. Ele olhou o projeto, analisou e disse: se eu executar esse projeto vocês não vão conseguir usar a escada, pois ali não passa uma pessoa com altura normal. Então ele refez o projeto e fez a escada usando madeira e tábuas brutas. Cuidadoso, caprichoso, cada centímetro e detalhes pensados. Responsável, bom humor, pessoa de boas relações e de confiança. Cada detalhe era feito com amor. Acompanhei a construção e cada dia admirava mais a sua obra.
A curiosidade: Um dia não me contive e perguntei – Até que ano você estudou? Fiz até o 5º ano incompleto. Por que parou? Por que a escola não tinha mais sentido para mim. Desde os 7 eu já aprendia a lidar com madeira. Aos 10 já trabalhava sozinho. Aprendi olhando os outros marceneiros. Que sonhos tens hoje? Estou montando minha própria marcenaria. E o estudo? Estudar é tudo, mas o que se aprende na escola não tem sentido.
Para pensar: Dias atrás nosso tema era Elisa. Hoje é Gilmar. Lembro também de agricultores que anos atrás me questionavam: O que vocês ensinam lá nessas faculdades para os agrônomos, veterinários? Por que quando vem aqui fazer suas práticas nós é que precisamos ensinar eles. São apenas alguns exemplos. No entanto, todas têm como problema a mesma origem: as escolas, as faculdades se desconectaram da realidade, se desconectaram do ser humano e, assim, perderam seu sentido de serem espaços de desenvolvimento das potencialidades humanas.