Setembro de 2019. Estava eu em uma Escola Estadual, bairro de Curitiba, para falar sobre Metodologia Evolutiva em um seminário de formação para turmas que estavam cursando magistério. Mas antes da nossa fala, estava prevista a apresentação de uma fanfarra de um outro colégio, municipal. Fiquei atento! Quando começaram a apresentação, para minha surpresa, quem estava na regência da primeira peça era a Natália, uma menina de 08 anos. A sua destreza e desenvoltura encheu os olhos de todos nós que ali estávamos e nos enchia de admiração. Do meu lado estava a Diretora da escola municipal de onde vinha a fanfarra. Externei a ela a minha alegria ao ver uma menina na tenra idade regendo o grupo de músicos. Pois é, disse a Diretora! Natália era uma menina problema. Problema em casa. Problema na escola. Estávamos prestes a expulsá-la quando alguém teve a ideia de convidá-la para a fanfarra. De uma hora para a outra, a Natália se transformou.
Ao ouvir essa história um filme passou pela minha cabeça e lembrei de um aluno que eu, como diretor, expulsei. Lembrei-me também dos grandes pensadores da história da humanidade que foram expulsos das escolas. Leio continuamente artigos que falam da falta de interesse e da indisciplina dos estudantes e vejo estatísticas de estudantes que reprovam, ou que simplesmente desistem de estudar no Brasil. Outras estatísticas falam das verdadeiras multidões de crianças que as escolas sugerem sejam levadas aos psicólogos, psicanalistas, etc. Também outros dados comprovam que de 80 a 90% das crianças que são encaminhadas a esses especialistas não tem problema algum. Apenas são crianças! Ativas, espertas, inquietas, inteligentes, curiosas que não suportam o modelo de escola que são obrigadas a frequentar.
Ao lembrar de Natália e de tantas outras crianças e jovens que estão neste momento decorando e repetindo coisas insignificantes nas escolas, me pergunto: Até quando vamos continuar a expulsar mentes brilhantes das escolas? Até quando vamos submeter crianças e jovens a essa desumana educação? Vocês educadores de escolas e faculdades (…) será que não está na hora de sair do belo discurso copiado de grandes pensadores sobre a educação, sobre como a mente humana aprende e se motiva e começar a colocar em prática o que esses pensadores, principalmente hoje os neurocientistas, investigaram e concluíram em sua árdua caminhada tentando contribuir com a humanidade para que a educação se torne um espaço aonde as mentes desabrocham e se libertam?