Mitos e crendices na educação brasileira II

Minha neta de 4 anos quer saber

Caro leitor!  Mais uma vez chega nosso dia de compartilhar ideias e ideais com você e hoje o assunto de reflexão é a minha neta que também é um mito ou uma crendice na educação. Vamos começar com um pouco de história nacional. Precisamos considerar que o Brasil se tornou um grosso caldo de muitas concepções, culturas, experiências e tentativas. Algumas dessas, excelentes e outras, catastróficas.  A concepção inicial de educação, por exemplo, veio dos Jesuítas, ordem francesa que desembarcou com o 1º Governador Geral, Tomé de Sousa, em 1549. Sua expulsão veio dois séculos mais tarde, com o Marquês de Pombal. Com a mudança instituída, muitas concepções e encaminhamentos ficaram cada vez mais nas mãos do governo, dos seus interesses e, por fim, a educação eminentemente brasileira começa a ser criada e enraizada. 

Transmissão, disciplina, fragmentação de conhecimentos, níveis fechados de estudo e professores com conhecimentos limitados foram se perpetuando, assim como suas formações. Nesse contingente, a divisão de programas educacionais estanques, de sequências lineares e de pré-requisitos foram sendo instituídos. Dessa forma, chegamos aos nossos dias, logicamente muito resumidamente, onde as caixinhas de conhecimentos não estão apenas totalmente separadas, mas ainda escalonadas em uma ordem e linha que não se admite burlar. Cada coisa no seu lugar como dizia minha mãe, ou então, nosso chavão nacional: Ordem e Progresso. 

Diante disso, se fortaleceu o mito de que há conteúdos escolares que se pode trabalhar na Educação Infantil e outros, somente no Ensino Médio. Quem decidiu isso foram os professores, conhecedores da sua área de atuação. A fundamentação, não totalmente avessa, é que para desenvolver alguns conceitos há condições indispensáveis que precisam ser superadas à priori. A premissa parte da ideia de que o conteúdo quem sabe, quem dá e quem organiza é o professor. Mas…e se formos na direção contrária. Se pensássemos que quem dá o tom, o de sua curiosidade e vontade de saber, é o estudante? Bem, daí entra a Dara, minha neta de 4 anos. Sua pergunta realmente nos instigou muito e fez pensar sobre isso que compartilho como mito com você. 

Ao ver sua imagem e toda a paisagem refletida no nosso açude de água, afirmou em tom de entusiasmo, descoberta e espanto: “Vovô, eu tô dentro da água e as árvores também estão lá!” Sua questão era instigadora por demais, sua testa franzida…olhar de cientista…queria descobrir e saber por que isso acontecia. Ela somente não sabia que esse fenômeno poderia ser respondido e conversado na disciplina de Física, no estudo da Ótica, apenas no Ensino Médio e, muito provavelmente, na 2ª série. 

A pergunta que faço então é: O que digo à Dara? “Calma, você só verá isso em Física, no Ensino Médio?” ou aproveito o momento para instigar mais ainda sua curiosidade sobre o mundo e seus elementos e ajudo a construir respostas simples, à sua altura, que satisfaça sua carinha nata de cientista, como todas as crianças têm, e despertar para muitas outras perguntas e buscas por respostas? 

Deixo essa para você, prezado leitor, responder.