Diz-se de nós e do período em que estamos que somos uma sociedade que se apoia em fatos, ou seja, nos acontecimentos e episódios comprováveis da vida e que mitos e crendices, onde respostas sobrenaturais, insolúveis, abstratas ou metafísicas não são mais utilizadas por que, justamente, não se podem comprovar nem por fatos, nem por argumentos científicos. Segundo essa ideia, se busca a “verdade dos fatos”, talvez você até já tenha ouvido essa máxima. No entanto, me parece que não é bem isso que acontece.
Percebemos, nos nossos anos de experiências, que há situações, concepções e até mudanças que queremos fazer e não conseguimos. Não fluem, não acontecem, não se realizam. Se fizermos um pensamento regressivo do tipo, “o que de pior poderia acontecer se eu mudasse isso?” perceberemos talvez, lá no fundo, algum mito ou crença, uma ideia por traz da dificuldade que nos segura e impede a mudança, mesmo não conseguindo explicar por fatos ou argumentos por que fazemos do jeito que fazemos. Isso pode acontecer em qualquer segmento da vida como no econômico, nas relações, nas emoções e na educação, que é onde demonstraremos hoje a nossa primeira crendice.
Esse primeiro exemplo vai para o fato de que fomos ensinados a acreditar, por mais que os estudos, fatos e argumentos científicos de hoje demonstrem o contrário, que a aprendizagem se dá pela transmissão de conhecimentos do professor para os alunos. Nessa crença, ouvir com atenção o professor, escrever tudo o que ele fala, ficar em silêncio na sala de aula, decorar algumas regras e fórmulas, colar papeizinhos na parede em época de provas e repetir isso nas avaliações, constrói novas aprendizagens. Essa ideia impede de ver que a educação é para a vida e, não, para a prova. Que o conteúdo é para resolver os problemas na vida e, não, para passar na prova. Sabemos que isso já não é mais uma verdade, que os países que ainda insistem nessa metodologia de formato industrial de formação de operários ficaram para traz em seus desenvolvimentos econômicos e sociais, multiplicaram a incidência de pobreza, de analfabetismo funcional e de exclusão e nesse caso, todos perdem.
A educação urge considerar o ponto de partida dos estudantes, suas vivências, realidades e seus entornos. O conteúdo teórico, aquele que somente o professor sabia e os alunos ignoravam, além de estar disponível na web, precisa explicar e se misturar com a vida, com as realidades e os fatos. Sim, agora entram os fatos da vida e as situações e todos, professores e estudantes, podem contribuir, pensar, refletir e criar soluções novas, não mais para a prova, mas para a vida. É para isso que se aprende, para podermos agir e mudar nosso mundo interior e exterior. Nossas crendices ainda atrapalham muito e impedem a mudança na educação do Brasil, precisamos superá-las.