Estamos todos sensibilizados por uma guerra que, mesmo tão distante por causa da tecnologia, está diariamente dentro de nossas casas. Fico abalada por imagens, às vezes em tempo real de bombas caindo, destruição de prédios e de cidades, pessoas chorando e desesperadas, ou até mesmo mortas no meio da rua. Mas quase tanto quanto me chocam essas imagens, fico abalada pela capacidade do meu cérebro de, quase que imediatamente ao desligar a TV e os noticiários, me sentir bem, cantar e conversar normalmente como se nada estivesse acontecendo. Você já sentiu estranho nessa situação?
O cérebro humano não foi feito para sentir fisiologicamente e de forma intensa, imagens criadas por uma tela de televisão ou computador. Ele não consegue fazer as leituras necessárias da situação, nem se envolver de forma profunda. Fomos criados para estar presencialmente e sentir intensamente toda complexa rede de reações físicas, biológicas e emocionais provocadas pela realidade. Por isso, a exposição a telas, a redes sociais, a desenhos infantis, ou a jogos de computador por longos espaços de tempo tendem à banalização das emoções e diminuição da cognição humana. Assim, pretender que nossos pequenos estudantes aprendam por computadores, pela internet, por meio de aulas não presenciais interfere no desenvolvimento humano. Damásio em sua obra “A estranha ordem das coisas” (sugerimos a leitura) relata que os seres, todos, inclusive os não humanos, se movem por emoções, por ação e reação e que o contato físico entre esses seres provoca alterações emocionais, físicas e cognitivas.
Pesquisas foram feitas também sobre reações em bebês a partir de momentos e situações presenciais e virtuais e a resposta de um e outro foi totalmente diferente. O cérebro interpretou de forma muito mais intensa e positiva os momentos presenciais que os digitalizados. O neurocientista francês Michel Desmurget insiste que essa será a primeira vez na história humana que a inteligência de crianças e adolescentes será menor do que a dos seus pais. Não podemos banalizar ou diminuir os sentimentos humanos por meio de telas de computador. Por isso, abrace mais, converse mais, aperte mais, beije mais, olhe nos olhos mais…Isso nos torna também mais humanos e realmente conectados uns aos outros.